segunda-feira, março 05, 2007

línguas-de-gato ao pequeno-almoço

Porque ontem foi domingo levantei-me mais cedo, ajaezei o burro e coloquei-o a trabalhar, que é como quem diz a puxar, a puxar, a puxar... e como ele é mesmo burro, vulgo QI mesmo muito baixo, puxa tudo o que lhe pomos à frente desde J'irai comme un cheval fou até Sarah Brightman... or else... depois, como não tinha queijos do norte... nem meia cura-cheiro-chulé de Pias... comi uma laranja de Orense sem cheiro a Baía nem aroma de Silves, nem a lembrar o bazar de pilhas enormes de tangerinas cheirosas, de mistura com banana de toda a qualidade, goiaba, abacaxi, coco, gengibre, nascer do sol de rosas- lilases quiméricos, do grasnar famélico de corvos em busca de peixe seco estendido nas traseiras dos quintais da temba, no meio do capinzal alto onde petizes apavoradas aproveitavam para fazer as necessidades, mais necessárias ao abrigo de olhares fortuitos... afinal, longe de olhares fortuitos, acho eu... comi umas línguas-de-gato com sabor a limão, a fogão de lenha e tabuleiro besuntado com manteiga... e lá fui à pesca, só com um bocado de fio de nylon e um anzol... acho que a minhoca ia meio encolhida... algures em parte incerta, já nem me lembro bem... ou seria algum camarão mais morto do que vivo de tanto esperar pela pescaria... e zuca-truca, no meio da aflição lá vai fio e anzol e engodo rio dos Bons Sinais abaixo... fiquei a olhar... a ponderar a hipotese de descer por entre os calhaus, mergulhar e apanhar o tesouro... mas acho que era arriscado... agora, no Índico, algures, perto de alguma gamba gorda pairará, talvez... ou talvez não... um fio de pesca de outros tempos, enredado, num anzol ferrugento... daqueles que já não se fabricam, nem com cabeças hipólito com cheiro a petróleo... quase por refinar... depois, bebi uma garrafita de água, como se fosse um redbulldá-te asas e apanhei a 109 cinzenta debaixo de chuva aborrecida até chegar a um lugar ao sol... o que eu andei práki chegar...

2 comentários:

Ana Castanheira Martins disse...

uau! ó joão tu tens cá uma veia de poeta!
bjkas
ana

joaosaomiguel disse...

brigadim Ana & companhia
obrigado mesmo, por existirem
bjs